sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A casa de Saturno

“Nem toda verdade merece ser pronunciada.”


A frase martelava em minha mente por horas. Soava como um deboche diante da minha racionalidade e do afeto que eu dedicava. É fato que nem tudo deve ser dito, mas omitir verdades era algo que não me parecia muito correto. Sobretudo em se tratando de alguém que supostamente amamos.


Por mais esforço que fizesse, não conseguia entender os motivos de Rebecca. E, pra ser sincero, tudo o que eu mais queria naquele momento era ter pensado em mandá-la ir para aquele lugar. Pena que isso não me ocorreu. Antes que pudesse esboçar qualquer tipo de reação ela tomou minhas mãos com as suas, levou até a altura do colo e , creio eu, contemplou pela última vez o brilho de nossos anéis de compromisso. Lembro-me de ter gasto todas as minhas economias para comprá-los. Mas Rebecca ignorou minhas memórias e disse, enquanto me entregava o anel : “Não posso lhe dizer todas as minhas verdades, mas espero que você compreenda.”


Não olhava em meus olhos, mas pude perceber que chorava. Na tentativa de disfarçar me deu o beijo que menos desejei em minha vida. Um beijo com gosto de tristeza e de adeus, que era misto de repulsa e paixão. Relembrava bons momentos e me anestesiava para suportar a dor da perda que estava por vir. Permanecemos ali, com os rostos grudados um ao outro. Suas lágrimas agora eram as minhas. Minhas lágrimas agora eram as nossas. Me abraçou forte, fez sinal para o táxi e desapareceu enquanto olhava fixamente para mim, na tentativa de desvendar os pensamentos que povoavam o meu imaginário.





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