
De tudo o que mais dói é a ausência. Aquele aperto no canto do peito que insiste em provar que existe. Quando aconteceu eu sabia que iria passar por maus bocados. Sabia que choraria lágrimas de saudade até que meus olhos ardessem como brasa. Sabia que sentiria falta de um abraço depois de uma importante conquista, das brigas intemináveis, dos longos papos (de pai pra filho), e das reconciliações no dia seguinte.
Sinto saudades de quando andávamos juntos de bicicleta, ou de quando atravessávamos o bairro inteiro só pra colocar o papo em dia e os pingos nos is.Agora colho os frutos da sua perda. E o primeiro deles é o fato de não lembrar mais da sua voz. Injusto isso! Logo a sua voz que tantas vezes foi exercitada gritando o meu nome quando eu fazia algo de errado (muitas vezes!). Quem me dera ouvir ao menos pela última vez o seu timbre.
Não aprendi a jogar futebol como o senhor sempre quis. Não passei pra medicina como você e a mamãe sempre sonharam. Renunciei à tudo; talvez por medo do incerto, talvez por certeza do desagradável. mas preservo até hoje a sua maior herança: nossa família. É pena não poder lhe dizer isso olhando nos olhos. É pena que eu esteja agora chorando sobre o seu epitáfio. É pena não poder te abraçar no seu dia. Meu silêncio e saudade falam a ti tudo o que tenho sentido, meu pai. Tanta saudade… Te amo.

2 comentários:
Nossa seu texto está maravilhoso.
na semana que vem vou pra Toronto participar de uma reunião de literatura que vai haver lá...
gostaria muito de levar esse texto pra ler..
Se vc permitir é claro...
Parabéns.!
Registre o texto e me dê uma resposta.
Beijos dessa andarilha canadense.
Ótimo texto!
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