A foto

Ela levantou em um salto. Sua mente ainda estava confusa, atordoada com o sonho que tivera. Calçou as velhas sandálias e foi até a cozinha beber água. O acender das luzes trouxe de volta as cores da realidade. Respirou fundo e, embora já estivesse certa de que tudo não passara de um sonho, buscava a calma mas não obtia resultado algum.

De repente foi tomada por uma ânsia súbita por ar fresco. Desceu pelo elevador, atravessou a rua e chegou até a praia. Caminhou durante alguns minutos, como se cada passo na areia fofa deixasse pra trás um resquício da noite mal dormida. Sentia-se cansada, mas não ligava para isso. Só se cansa aquele que se move. E mover-se era tudo o que ela mais precisava naquele momento.

Andou por horas à fio, pé ante pé seguiu para o desconhecido. Suas pernas começaram a doer. Lágrimas brotaram de seus olhos e percorreram toda a extensão de sua face, das olheiras até as maçãs do rosto. O gosto salgado do pranto fundia-se com o sorriso que começava a ser esboçado no canto da boca, e se abriu como flores na primavera.. Apesar de tudo continuava vagando. Seguindo até o fim da praia. Seguindo até desaparecer...num espaço de tempo tão curto quanto o clic de uma máquina fotográfica. Virou vulto; fragmento de um momento que em determinado tempo existiu.

Ana levantou em um salto. Sua mente ainda estava confusa com o sonho que tivera. Calçou as velhas sandálias, mas antes que pudesse ir até a cozinha acendeu as luzes e viu sobre a mesa de cabeceira, antes vazia, uma fotografia.

Marlon Eduardo Faria ... Todos os direitos reservados