Poucas são as vezes em que me aventuro pela madrugada da cidade. Mas nas poucas noites em que isso ocorre, ganho muitas histórias para contar. Essa semana não foi diferente...
Eram duas da manhã e eu estava num ponto de ônibus. Fiz sinal para o veículo, aparentemente vazio, e subi. Sentei-me no segundo banco. E percebi que uma menina, mais ou menos 17 anos, estava sentada no lugar que fica atrás do motorista. E que eles conversavam, poucas coisas, mas havia uma certa malícia no ar.
Decifrei as entrelinhas, e notei que vez ou outra surgiam comentários do tipo:
" Onde nós vamos?"
"Vamos no Clube Mauá!"
"E lá é bom?"
"É sim? Depois vamos a outro lugar!"
"Que lugar?"
(risos) "Você vai ver...!"
Comecei a me sentir um tanto quanto incomodado com aquilo. Não conseguia precisar se a "menina" era maior ou menor de idade. Não conseguia conceber que um velho motorista estivesse procurando diversão com uma criança, prostituta, ou com uma criança prostituta.
Ao mesmo tempo, não conseguia desviar o olhar do assunto dos dois. Também, não havia mais ninguém no ônibus. O que tornava impossível o meu interesse por outra coisa. De vez em quando ele percebia que eu observava o flerte e me dedicava olhares nada amigáveis.
Ela tinha cara de que não se alimentava há séculos. Comecei a alucinar pensando que ela faria isso em troca de comida. Mas pelo visto era dinheiro mesmo. Pensei : " Será que ela tem noção da cilada em que está se metendo?" Ela não parecia uma prostituta, nem se vestia como tal. Pelo contrário, parecia uma criança. Aquilo começou a me perturbar demais. Mas talvez, ela não só soubesse como estivesse interessada em deixar se levar pela lábia do velho motorista. Talvez quisesse mesmo isso. E eu, idiota que sou, poderia ser o único preocupado com a concretização de um destino mais que certo.
Logo aquele ônibus, que faz um trajeto tão demorado... Minha vontade era de descer do coletivo na mesma hora. Mas convenhamos, duas da manhã não é hora pra ficar andando a pé na rua né?

7 comentários:
Belo final: O final dos dois é o que menos interessa, ja que "o que foi dito nos diz" o que importa para uma reflexão mais interessante.
Muito bom como você entrelaçou a situação dos dois com a sua de tomar a decisão de descer ou não do ônibus.
Puxa, muito obrigado mesmo. Foi exatamente isso que quis expressar nesse texto. O curioso é que escrevi logo após o acontecido, então estava com a informação realmente martelando e angustiando a minha mente. Acho que isso contribui muito pra uma elaboração híbrida (emocional descritiva). Me fez passar as informações ora descrevendo o fato, ora salientando as minhas reações.
Muito obrigado pelos elogios.
Realmente seu relato foi escrito muito bem, entendi perfeitamente o que vc quis passar!
Acho que se eu tivesse na sua situação, tbm não desceria... Mas ficaria com muiito medo rs!
Parabéns pelo blog! ^^
http://pedrolusi.blogspot.com/
O texto ficou bem legal! Até esteticamente ficou bem organizado.
Parabéns.
Verball
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NOSSA!! PARANÉNS... BELO TEXTO
Plena Realidade brasileira !
mto bom texto, ótima expressão !
Olha, você não vai ter nenhum tópico perguntando o que você quis passar no texto pois foi brilhantemente claro.
Parabéns pela maneira de escrever!
dá uma passadinha no meu, retribua a visita e deixe um comentário ;)
www.gustavolincolnadm.blogspot.com
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